sexta-feira, 3 de julho de 2020

água boa?

Você já parou pra analisar a qualidade da água da sua casa a partir dos dados disponibilizados pela Companhia de Água e Esgotos do seu estado? Fui no site da CAERN, coletei os dados da minha residência e fiz o consolidado de alguns indicadores, no período de jan/2019 a jun/2020, transformando os dados em gráficos para melhor analisar.

Fiz isso porque ultimamente tenho sentido um cheiro insuportável de Cloro na água aqui em casa, parecendo água de piscina recém tratada, tá ligado? Sei que ele é um produto essencial, usado para dar qualidade à água porém isso tem me incomodado um pouco esses dias.

Apesar de constatar que o valor obtido em junho/2020 (coleta mais atual) está dentro das margens permitidas, aparentemente, o valor do Cloro Residual Livre (e consequentemente o cheiro) já foi bem maior, conforme gráfico abaixo.

A surpresa foi o valor do Nitrato presente na água da minha residência, com valores mensais acima do limite máximo tolerável. 
Segundo a CAERN, Nitrato é o sal proveniente da nitrificação do Nitrogênio-amoniacal resultante da decomposição de resíduos orgânicos, ou de adubações nítrico-amoniacais.
Em seu Relatório Anual de Qualidade da Água (janeiro a junho de 2020) - Zona Sul, Leste e Oeste de Natal, a CAERN informa que apenas 69% das amostras coletadas estão em conformidade quando se trata de Nitrato.

Quero acreditar que esse resultado seja decorrente do problema de saneamento em Natal/RN, que impacta diretamente nos lençóis freáticos há anos, e não negligência da empresa.

Ao analisar o pH da água, os dados foram péssimos! Em nenhum dos meses analisados o valor obtido ficou dentro da faixa recomendada.

Em contrapartida, ao analisar o % de Ausência de Coliformes Totais, o resultado foi muito bom; realidade bem diferente da maior parte das residências das famílias brasileiras (tradicionais ou não) que, muitas vezes, sequer tem acesso a água de qualidade.



Conclusões
  1. Tentei entrar em contato com a CAERN via chat online para entender o que está acontecendo mas não obtive nenhuma resposta. Temporariamente vou deixar pra lá... Espero que com os dias esse cheiro de Cloro suma;
  2. Não tenho conhecimento técnico para analisar qualitativamente esses dados, gostaria muito de receber alguma resposta da Companhia ou a orientação de algum amigo e/ou técnico que entenda o que acontece com os valores não-conformes; se haverá ou impactará em algum problema grave de saúde a médio-longo prazo;
  3. A maioria dos indicadores está com valores aceitáveis e só o fato de não estar entrando em contato com coliformes pela água que entra em minha casa, já é um grande alívio;
  4. Valorizemos os Órgãos Públicos. Apesar de ter algumas oportunidades de melhorias (principalmente no contato cidadão-órgão), há sim a maior parte de servidores empenhados em fazer o seu melhor para a população; há sim órgãos sérios que informam seus dados com transparência. #PrivatizaçãoNão
sexta-feira, 20 de março de 2020

não vamos passear no bosque

Quando criança, eu costumava brincar de Cabaninha com meus irmãos, primos, pais. Ficávamos dois ou três embaixo de um lençol e fingíamos que estava chegando um grande vendaval ou o lobo mau para tirar o pano, acabar conosco e tudo o que estava ao nosso redor.

Era uma sensação de ansiedade e medo mesmo sabendo que tudo não passava de uma brincadeira. Quando alguém de fora vinha e realmente puxava o lençol, era uma gritaria só.

Ao enviar a 10ª praga ao Egito, Deus informou antes aos israelitas que passassem sangue de cordeiro nos arcos de suas portas para que seus primogênitos fossem salvos. Os dos egípcios foram mortos. Aproveita a quarentena e vai ler essa história em Exôdo 12.

Meio que estamos nos sentindo assim hoje, quem pode ficar em casa. Vivemos dias de receio e precaução com esse vírus que pode chegar à nossa porta a qualquer momento.

Hoje, ungimos as mãos em álcool em gel mais do que nunca e se fizesse efeito, também passaríamos até em nossas portas para evitar que a contaminação chegue. Aliás, tenho pra mim que alguns sem noção que estocam o produto o compra para esse fim mesmo.

Mas a contaminação não chegará como o exército matador de primogênitos, fazendo zoada e eliminando apenas aqueles que estão desprotegidos. Não fará alarde, chegará silenciosa, discreta, não baterá na porta nem fará qualquer ruído. Poderá atacar até mesmo aqueles que estão em isolamento.

É preciso cautela, bom senso, tranquilidade e não subestimar esse inimigo invisível que é capaz de matar tanto quanto um exército.

Fiquemos em casa, se possível, nos resguardando e protegendo os nossos. Sabemos que, em todas as histórias, o lobo mau sempre se dá mal no final.

Em breve estaremos todos juntos indo passear no bosque e visitando nossas vovózinhas novamente.

Autor: Felipe Gurgel (20/03/2020)
domingo, 8 de março de 2020

não são novas gueixas

Bufando de ódio ela chama Nilda após tentar, por 22min, colar a porra da película em gel no meu celular. Antes, desperdiçou 3 delas, diga-se de passagem.

Eu pensava cá comigo: "Calma, menina, eu não tô com pressa...". Até saía um pouco de perto do balcão, achava que minha presença diante dela estava atrapalhando a sua concentração. Na verdade, o fato de eu estar ali era mais por curiosidade mesmo, pra saber como deveria ser aplicado aquele novo produto, se eu mesmo teria capacidade motora tanto quanto ela. Cheguei à conclusão que não.

Como disse Nilda assim que chegou pra me atender: "É que essa película em gel é complicada mesmo de aplicar. Ninguém gosta, preferem a de vidro. E acho que ela não tá muito bem hoje...", dando um sorrisinho meio de canto na boca. Daí começou o serviço com uma paciência de Jó. Limpou a tela, descolou o plástico, deslizou as espátulas, batalhava pra tirar as bolhas que insistiam em aparecer para, só então, depois aplicar a película de vez.

Foi quando me dei conta que a nova atendente era praticamente idêntica à que anteriormente me atendia irritada. Olhei para as demais, e pareciam cópias umas das outras. Exceto por Gabi, única negra, que se destacava entre todas por me parecer a mais simpática.

Como estava com tempo e o troço demorava mesmo, rapidamente fiz uma "análise psico-social" daquele ambiente de trabalho:  uma loja especializada em acessórios para celular, com uma equipe formada por mulheres de 18-20 anos, cujo ofício requer concentração e paciência. Um ambiente de trabalho um tanto quanto hostil e salários, ouso dizer, baixíssimos; com remuneração adicional por percentual de vendas.

A fim de evitar desperdícios e roubos (por parte dos clientes), atributos principais para quem ali trabalhasse deveriam ser atenção e resiliência. É óbvio, naquela situação, que a equipe só poderia ser formada por mulheres! Mas até que havia homens trabalhando ali: como Caixa e Gerente. Aquelas meninas-mulheres me pareciam Gueixas, que nas casas de chá eram treinadas para abaixar a cabeça, distrair a clientela, servir, serem discretas, pacientes e bonitas.

Lá pelas tantas chega mais uma pé 34. O que a diferenciava eram seus cabelos azul-esverdeados e a farda do IFRN, que logo seria trocada pela da loja, que trazia em mãos.

E isso me fez cair a ficha de que elas são cientes da realidade que vivem. Aquele empregozinho de merda é somente um degrau para algo muito maior que elas sonham e batalham diariamente. Mas esse degrau é, na verdade, uma pedra no caminho delas, que não existe para muitos homens somente pelo fato de serem homens. Em grande parte, eles se posicionam no mercado em empregos muito mais notórios e rentáveis bem mais facilmente ou rapidamente que elas.

Embora as mulheres tenham conseguido muitos direitos e os gozam merecidamente, ainda existe uma realidade bem pior - a parte escondida do iceberg - de que para isso, elas enfrentem diversas situações de injustiça, antiquadas e inadmissíveis, tanto quanto as suas manas orientais, antigamente.

Espero que sim, que aquelas mulheres da loja saibam que podem e merecem muito mais que aquele emprego chato pra caralho, apesar de digno. Que elas possam terminar seus cursos técnicos, que possam começar faculdades e fazer grandiosidades pra sociedade.

Fiquei curioso em saber como seria o cenário daquela loja caso todos os funcionários fossem homens. Aliás, será que a loja ainda existiria?

Findado o serviço, peguei meu celular de volta, olhei nos olhos dela e agradeci com uma verdade imensa que talvez ela nem tenha entendido.
terça-feira, 3 de março de 2020

eu não quero pogar

Segundo o Dicionário Informal, Pogar significa "forma de dança peculiar ao rock onde as pessoas simulam uma briga de acordo com o ritmo tocado, em movimentos circulares e pulos."

É aquela dança onde geralmente formam uma rodinha e ficam fazendo movimentos meio desconexos, loucos (e até engraçados) no meio de um show qualquer, não apenas de rock, sabe? Alô, Banda Grafith!

Fazendo a analogia de que essas rodinhas são as redes sociais e grupos de WhatsApp, eu diria que hoje batalho para estar fora delas. Não tenho mais disposição, ânimo e interesse em estar nessa freaky dance, onde o contato é extremamente superficial, medíocre, onde os elos se formam e se destroem em um mero touch.

Compartilhamos muitas notícias, fake news, memes, informações inúteis, difamamos pessoas e temos opinião formada sobre tudo. Ou então não fazemos nada disso. Estamos ali naquele galpão vazio somente porque somos obrigados a estar, porque fica feio sair, por "consideração" aos nossos amigos (conhecidos?) da turma do pré-vestibular de 1999. Mais um grupo inativo.

Criamos literalmente avatares, somos personagens. Pouco mostramos quem realmente somos, não damos a cara à tapa. Erguemos muros, impomos limites. Vivemos on-line mas pouco vivenciamos uns com os outros.

Não falamos sobre ou expomos nossos problemas reais, dificuldades. Quando exibimos nossas conquistas - até mesmo um abdômen trincado - ou abrimos um pouco mais sobre nossa vida, sempre há um desejo subliminar de receber um like em troca para afagar o ego. E assim vamos nos contentando com essas pílulas de felicidade que nos reenergizam para continuar pogando.

Não condeno as redes sociais. Elas tem lá suas utilidades, são ferramentas importantes de conexão com o mundo real. É interessante ter um meio mais rápido de saber qual a promoção do dia do seu restaurante de sushi favorito, a acessar a programação do festival que você irá daqui a alguns meses, ajudam a construir um roteiro de viagem e servem para avisar que iremos chegar atrasados ao trabalho. Porém, é preciso sobretudo haver nelas mais empatia e o sentimento de interesse genuíno pelas/para com as outras pessoas. Não podem se tornar a razão fundamental para manutenção ou existência de um elo de amizade ou seja lá ele qual for.

Adoramos receber notificações de novas mensagens piscando em nossas telas. Poucos queremos ser essa notificação. É mais fácil e agradável receber uma mensagem de "Oi, como você está? Vamos nos encontrar, botar o papo em dia..." do que ser o emissor dessa mensagem sincera. Nos limitamos ao egoísmo de nos comunicar com as pessoas apenas quando nos é conveniente ou enviar informações (que muitas vezes não se transformam em conhecimento) que se esvanecem no scroll do feed.

Sinceramente, não julgo quem está nesse redemoinho de gente. É um comportamento natural, normal e irreversível, infelizmente, da humanidade hoje em dia. Aí dentro certamente há pessoas interessantíssimas que estão agindo conforme a manada. No entanto, prefiro agora continuar assistindo ao show da vida aqui do lado de fora da roda de poga, bem tranquilinho, sem êxtase, sem essa necessidade frenética de se conectar às outras pessoas dessa forma louca, volátil e não-agregadora.

Continuo aqui bebendo minha cervejinha puro malte, curtindo numa boa o som que tá rolando, conhecendo e papeando ao vivo com alguém que está no mesmo ritmo que eu. Aprendendo coisas novas, dedicando meu tempo a apreciar outras danças mais lentas que me tragam doses cavalares de real felicidade. Trocando experiências que tornem aquele momento memorável. Cuidando do meu amadurecimento pessoal, crescimento espiritual e, principalmente, da minha saúde mental - algumas cotoveladas na roda de poga doem pra valer, mesmo quando não são intencionais.

Não me acho superior a ninguém. Pode ser que em algum momento eu entre novamente na roda caso sinta vontade, até que é divertido por um tempo. O fato de eu não participar não significa que eu abomine e/ou condene aquelas pessoas ao ponto de não querer conviver com elas.

Minha amizade não é frágil e fluida ao ponto de não resistir a uma quebra de link exclusivamente virtual. Um unfollow não significa que estou saindo da sua vida; o carinho, admiração e respeito permanecerão sempre o mesmo. Apenas estou do lado de cá, querendo vocês aqui também, esperando que se cansem ou se lembrem que ainda estou na arena do show.

No momento vocês vão ter que entender que eu não quero mais pogar.

Felipe saiu do grupo sim.