terça-feira, 3 de março de 2020

eu não quero pogar

Segundo o Dicionário Informal, Pogar significa "forma de dança peculiar ao rock onde as pessoas simulam uma briga de acordo com o ritmo tocado, em movimentos circulares e pulos."

É aquela dança onde geralmente formam uma rodinha e ficam fazendo movimentos meio desconexos, loucos (e até engraçados) no meio de um show qualquer, não apenas de rock, sabe? Alô, Banda Grafith!

Fazendo a analogia de que essas rodinhas são as redes sociais e grupos de WhatsApp, eu diria que hoje batalho para estar fora delas. Não tenho mais disposição, ânimo e interesse em estar nessa freaky dance, onde o contato é extremamente superficial, medíocre, onde os elos se formam e se destroem em um mero touch.

Compartilhamos muitas notícias, fake news, memes, informações inúteis, difamamos pessoas e temos opinião formada sobre tudo. Ou então não fazemos nada disso. Estamos ali naquele galpão vazio somente porque somos obrigados a estar, porque fica feio sair, por "consideração" aos nossos amigos (conhecidos?) da turma do pré-vestibular de 1999. Mais um grupo inativo.

Criamos literalmente avatares, somos personagens. Pouco mostramos quem realmente somos, não damos a cara à tapa. Erguemos muros, impomos limites. Vivemos on-line mas pouco vivenciamos uns com os outros.

Não falamos sobre ou expomos nossos problemas reais, dificuldades. Quando exibimos nossas conquistas - até mesmo um abdômen trincado - ou abrimos um pouco mais sobre nossa vida, sempre há um desejo subliminar de receber um like em troca para afagar o ego. E assim vamos nos contentando com essas pílulas de felicidade que nos reenergizam para continuar pogando.

Não condeno as redes sociais. Elas tem lá suas utilidades, são ferramentas importantes de conexão com o mundo real. É interessante ter um meio mais rápido de saber qual a promoção do dia do seu restaurante de sushi favorito, a acessar a programação do festival que você irá daqui a alguns meses, ajudam a construir um roteiro de viagem e servem para avisar que iremos chegar atrasados ao trabalho. Porém, é preciso sobretudo haver nelas mais empatia e o sentimento de interesse genuíno pelas/para com as outras pessoas. Não podem se tornar a razão fundamental para manutenção ou existência de um elo de amizade ou seja lá ele qual for.

Adoramos receber notificações de novas mensagens piscando em nossas telas. Poucos queremos ser essa notificação. É mais fácil e agradável receber uma mensagem de "Oi, como você está? Vamos nos encontrar, botar o papo em dia..." do que ser o emissor dessa mensagem sincera. Nos limitamos ao egoísmo de nos comunicar com as pessoas apenas quando nos é conveniente ou enviar informações (que muitas vezes não se transformam em conhecimento) que se esvanecem no scroll do feed.

Sinceramente, não julgo quem está nesse redemoinho de gente. É um comportamento natural, normal e irreversível, infelizmente, da humanidade hoje em dia. Aí dentro certamente há pessoas interessantíssimas que estão agindo conforme a manada. No entanto, prefiro agora continuar assistindo ao show da vida aqui do lado de fora da roda de poga, bem tranquilinho, sem êxtase, sem essa necessidade frenética de se conectar às outras pessoas dessa forma louca, volátil e não-agregadora.

Continuo aqui bebendo minha cervejinha puro malte, curtindo numa boa o som que tá rolando, conhecendo e papeando ao vivo com alguém que está no mesmo ritmo que eu. Aprendendo coisas novas, dedicando meu tempo a apreciar outras danças mais lentas que me tragam doses cavalares de real felicidade. Trocando experiências que tornem aquele momento memorável. Cuidando do meu amadurecimento pessoal, crescimento espiritual e, principalmente, da minha saúde mental - algumas cotoveladas na roda de poga doem pra valer, mesmo quando não são intencionais.

Não me acho superior a ninguém. Pode ser que em algum momento eu entre novamente na roda caso sinta vontade, até que é divertido por um tempo. O fato de eu não participar não significa que eu abomine e/ou condene aquelas pessoas ao ponto de não querer conviver com elas.

Minha amizade não é frágil e fluida ao ponto de não resistir a uma quebra de link exclusivamente virtual. Um unfollow não significa que estou saindo da sua vida; o carinho, admiração e respeito permanecerão sempre o mesmo. Apenas estou do lado de cá, querendo vocês aqui também, esperando que se cansem ou se lembrem que ainda estou na arena do show.

No momento vocês vão ter que entender que eu não quero mais pogar.

Felipe saiu do grupo sim.

2 Comentários:

Anonymous Guilherme disse...

👏🏼👏🏼👏🏼

17:04  
Blogger Unknown disse...

Achei sensacional seu texto e muitas verdades, adorei estou revendo essas coisas tbm.

05:57  

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